Divisão de Controle das Endemias de Ji Paraná Ro http://dcejipa.blogspot.com.br/
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INFORME TÉCNICO PARA O CONTROLE DO “CARAMUJO AFRICANO” (ACHATINA FULICA BOWDICH, 1822),
EM RONDÔNIA. Exemplar do Caramujo Africano, Achatina fulica (pronuncia-se: acatina fúlica) Porto Velho, Março de 2015. HISTÓRICO Originário do Leste da África, o “Gigante Africano” foi introduzido no Brasil na década de 1980 (TELLES et al., 1997) em uma tentativa de substituição de cultivo do “escargot” Helix aspersa Müller, 1774.
A espécie africana surgiu como uma boa opção aos criadores por apresentar vantagens, como por exemplo, a maior adaptação ao clima dos trópicos, facilitando a criação e a redução no tempo de no tempo de crescimento individual e populacional, o que aumenta a produção. A perda de interesse na criação motivada principalmente pelo baixo retorno financeiro e dificuldades para escoação da produção levaram alguns criadores a abandonarem exemplares no ambiente, acarretando sua rápida dispersão pelo território brasileiro. Sua importância médica está relacionada à atuação como hospedeira intermediária de nematódeos metastrongilídeos, causadores da angiostrongilose abdominal e meningoencefalite eosinofílica. Faz-se importante ressaltar que até o momento não foram encontrados no Brasil exemplares de A. fulica naturalmente infectados pelo Angiostrongylus costaricensis, (Morera & Céspedes, 1971). MORFOFISIOLOGIA O caramujo adulto tem concha cônica, de 10 a 15 cm de comprimento, mosqueada de tom marrom claro e escuro que, após morte, fica esmaecida (desbotada); podem pesar até 200 gramas e os indivíduos jovens são menores, mas possuem as mesmas características de concha dos adultos. Essa espécie é extremamente prolífera, principalmente na estação chuvosa, alcançando a maturidade sexual aos 4 - 5 meses; a fecundação ocorre cruzada (mutuamente), pois os indivíduos são hermafroditas, realizando até 04 posturas anual, com 50 a 400 ovos, por postura, que medem de 5-6 mm de comprimento por 4-5 mm de largura, hibernam abaixo de 10º Quanto aos hábitos alimentares, caracteriza-se por ser um herbívoro generalista/polífago (folhas, flores, frutos, casca caulinar etc), além de alimentar de papel e até tinta de parede; tornam-se canibais, comendo ovos e jovens da mesma espécie, principalmente na falta de cálcio; podem viver mais de 09 anos e, após a morte, a concha fica, geralmente, virada para cima, podendo ficar cheia de água da chuva e servir de criadouro para o Aedes aegypti e também outros mosquitos. Figura 1 - Forma da postura do caramujo africano, detalhes dos seus ovos. ANÁLISE DA CONCHA E POSTURA DO CARAMUJO AFRICANO
Detalhes e variabilidade do colorido das conchas do caramujo africano. Figura 3 – Procedimento para enterrar em valas os caramujos coletados. IMPACTOS DO CARAMUJO AFRICANO SAÚDE PÚBLICA O caramujo-africano é um hospedeiro intermediário de duas espécies de nematóides (Angiostrongylus costaricensis e A. cantonensis). O primeiro pode ocasionar a angiostrongilíase abdominal, causando perfuração intestinal, peritonite e hemorragia, podendo resultar em óbito caso não se tenha diagnóstico e tratamentos corretos, cujos sintomas são semelhantes a uma apendicite, mascarando a presença da doença nas estatísticas públicas. Tem-se registro desta forma abdominal nos Estados do Rio Grande Sul, Santa Catarina, Paraná São Paulo e Distrito Federal, mas neste caso sendo os hospedeiros intermediários Phyllocaulis variegatus, lesma de grande distribuição geográfica no Continente Sul-Americano, e outros moluscos como Limax maximus, L. flavus e Biomphallaria similaris. A outra espécie, Angiostrongylus cantonensis, pode transmitir o nematóide causador da angiostrongilíase meningoencefálica ao homem (meningite ou meningoencefalite eosinofílica), apresentando estados clínicos muito variáveis, embora, poucas vezes fatal, os sintomas podem se arrastar por meses, ocorrendo casos de lesões oculares permanentes (cegueira). Parece ser contraída pelo homem por meio da ingestão de larvas de terceiro estádio (L3) deste nematóide, ou de moluscos infectados pelo verme. Como as larvas são encontradas no muco produzido pelo molusco e, por serem ávidos por verduras, legumes e frutas como fonte alimentar, é provável que o consumo humano desses vegetais seja a maneira mais comum de contaminação (presença de muco - elicina) do patógeno. No contexto epidemiológico atual, a angiostrongilíase meningoencefálica permanece ausente na área continental americana. • Lembrando que ainda não existem casos confirmados no Brasil de Angiostrongylus costaricensis e A. cantonensis, transmitidos pelo caramujo africano. • Por medida de segurança lavar bem as frutas , hortaliças, verduras e legumes e fazer a desinfecção com hipoclorito de sódio ( colocar em imersão em uma colher de chá de água sanitária para um litro de água, de 15 à 30 minutos), antes de consumir esses alimentos. AGRICULTURA Devido as suas características morfofisiológicas e o hábito alimentar, é uma espécie voraz, podendo se alimentar de cerca de 500 tipos de plantas, variando desde abóboras, alface, almeirão, batata-doce, feijões, mandioca, pepino, rami, tomate, a frutíferas como acerola, guaraná, mamão, morango e ornamentais, camarão-vermelho, hibiscos, jibóia, (orquídeas etc), plantas ruderais* (jambu, picão-branco), nativas (mandacaru etc) e florestas implantadas. * Termo Botânico: Diz-se da planta que habita as cercanias das construções humanas: ruas, terrenos baldios, ruínas, etc. (Como tal ambiente, em geral, é relativamente rico em proteínas, as plantas ruderais são nitrófilas). Figura 3 - Presença do caramujo africano em diferentes habitats. MEIO AMBIENTE Os moluscos participam no equilíbrio do ecossistema como importantes agentes na reciclagem de nutrientes, principalmente de cálcio. As espécies invasoras alteram esse equilíbrio, pelo acelerado aumento populacional, diminuindo a disponibilidade de alimento para a malacofauna (fauna de moluscos) nativa terrestre. Em laboratório, indivíduos do molusco gigante brasileiro aruá-domato (Megalobulimus cf. oblongus) na presença do caramujo africano, ficam inibidos, e inativos, entram em letargia e morrem em poucos dias, podendo o mesmo ocorrer em ambientes naturais e ameaçar sobrevivência dos nativos. A utilização do caramujo africano, também como isca em “pesque-pagues”, pode gerar um enorme impacto nos recursos hídricos. RECOMENDAÇÕES A entrada de espécies de moluscos no Brasil deve ser rigorosamente controlada, fiscalizada e regulamentada mediante estudo prévio de impacto ambiental. Áreas portuárias e estradas merecem especial atenção por representarem importantes vias de acesso. Para aquelas espécies que já se encontram estabelecidas, recomenda-se a adoção de estratégias de controle, que perpassam pelo estabelecimento de normas específicas (leis, decretos, instruções normativas etc), treinamento de profissionais dos Ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e da Saúde, e de agências nas esferas federal, estadual e municipal. Atividades de educação ambiental e de conscientização da população são efetivamente importantes aliados ao controle das espécies exóticas e na redução dos casos de doenças relacionadas. Ações simples como, por exemplo, hábitos higiênicos na manipulação e consumo de água e alimentos são eficazes na redução do número de pessoas acometidos por parasitoses. O combate aos moluscos deve-se basear no correto reconhecimento e catação manual das espécimes para posterior eliminação, preferencialmente por incineração. O uso de sal ou produtos químicos para matar os moluscos deve ser visto com ressalvas, pois pode contaminar o solo, lençóis d’água e afetar crianças e animais domésticos. MEDIDAS DE CONTROLE 1) Aprenda a diferenciá-lo dos moluscos nativos, (vide figuras anteriores) para que estes sejam preservados. No caso da possível presença do Caramujo Africano, informe às autoridades de seu município (Secretaria Municipal de Saúde, Agricultura, Meio Ambiente, Vigilância Sanitária, etc.). 2) Em residências (jardins, hortas, pomares) ou bairros, colete os caramujos e os ovos manualmente, utilizando uma luva de borracha ou similar ou mesmo uma pá e coloque-os em sacos plásticos dentro de um recipiente adequado (tambores, lixeiras com tampas ou sacos plásticos de alta resistência). Em caso de contato acidental, basta apenas lavar as mãos com água e sabão. Os melhores horários para o procedimento de coleta são pela manhã ou no final da tarde. 3) Organize coletas periódicas, durante todo o ano, procurando eliminar locais de ocorrência do animal como lixos (pneus, latas, entulhos, plásticos, tijolos, telhas, madeiras, etc.) dos quintais e lotes baldios, tentando evitar também ratos, baratas, escorpiões, aranhas, moscas e mosquitos. PARA O DESCARTE • No local utilizado pelo Município, para a disposição do lixo domiciliar, cave previamente uma vala com aproximadamente um metro e meio de profundidade; a largura e o número de valas variam de acordo com a quantidade de caramujos coletados. • No caso do local de descarte não ser licenciado como aterro sanitário, proceda como no item anterior, forrando o fundo da vala com uma camada de cal virgem para impermeabilizar o solo, o que pode evitar a contaminação do lençol freático. • Despeje os caramujos contidos nos sacos para dentro da vala (sem os sacos plásticos), se possível esmague os animas (mas não é obrigatório, pois estes animais são pulmonados e logo morrerão por falta de oxigênio); em seguida cubra a vala com terra até o nível do solo. EVITAR AS SEGUINTES CONDUTAS • Não use sal para controlar os caramujos, para evitar a salinização do solo, destruindo o gramado e as plantas por muitos anos. • A utilização de venenos ou moluscicidas não deve ser feita, uma vez que outros animais e até pessoas podem ser contaminadas, e até morrerem. É IMPORTANTE LEMBRAR QUE A INTRODUÇÃO, CULTURA E COMERCIALIZAÇÃO DE OVOS E ADULTOS DE ACHATINA FULICA (CARAMUJO AFRICANO) É UMA ATIVIDADE CONSIDERADA ILEGAL. Figura 4 - Manejo na coleta de indivíduos de Achatina fulica, visando o seu controle. Agência Estadual de Vigilância em Saúde – AGEVISA/RO Coordenação Geral Parceiro. Gerência Técnica de Vigilância Ambiental – GTVAM/AGEVISA Contato: (069) 3216 - 5343 e-mail: vsa.ro@hotmail.com Elaboração Coordenação Estadual de Controle de Esquistossomose /AGEVISA/RO. Biólogo: Rosenilton de Araújo Neves – Especialista em Saúde Pública. Coordenador Estadual do Programa de Controle Esquistossomose e Geohelmintíase. Contato: (069) 3216 - 5294 e-mail: nylton.neves@gmail.com / leishimaniose@agevisa.ro.gov.br Colaboração: Núcleo de Endemias II – AGEVISA/RO Eleildon Mendes Ramos (Médico Veterinário) Chefe de Núcleo Contato: (069) 3216 - 5294 e-mail: leishimaniose@agevisa.ro.gov.br Bibliografia Consultada e Recomendada: AMARAL, W. Programa nacional de saneamento ambiental da invasão da Achatina fulica – preocupação nacional. São Paulo: Instituto Brasileiro de Helicicultura/Fundação CEDIC, 2002, FUNDAÇÃO CEDIC: www.cedic.org.br PAIVA, C. L. Achatina fulica: praga agrícola e ameaça à saúde pública no Brasil. Disponível em : http://www.geocities.com/lagopaiva/achat_tr.htm. SANTOS, S.B., MONTEIRO, D.P. & THIENGO, S.C., 2002. Achatina fulica (Mollusca, Achatinidae) na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro: implicações para a saúde ambiental. Biociências, 10(2): 159-162. ROTEIRO PARA PREPARAÇÃO DA CAMPANHA DE CONTROLE DO CARAMUJO AFRICANO (Achatina fulica, Bowdich 1822) EM RONDÔNIA Para o desenvolvimento de uma ação de Controle do Caramujo-Africano no Município, antes de qualquer outra iniciativa, é importante o envolvimento e a participação efetiva da população, bem como dos órgãos públicos. Desta forma, as ações devem ser realizadas de maneira planejada e contínua. Para que as ações sejam eficazes, os gestores devem planejar as atividades a serem realizadas: 1. Envolver os órgãos municipais da Agricultura, Saúde, Meio Ambiente, Educação, Limpeza Urbana, Associações de Bairros, Universidades entre outros parceiros. 2. Identificar os locais (bairros/setores) onde está ocorrendo à presença, principalmente com alta incidência do caramujo africano e, se possível, locá-los no mapa do Município, em escala adequada, legenda e outros dados. 3. Estabelecer a (s) data (s) para realização da campanha, bem como escolher os locais para coleta que deverão ser instalados, em pontos estratégicos. 4. Elaborar material a ser usado em Campanhas Educativas (cartazes, folders etc.), adotando as recomendações dos órgãos oficiais para as ações de controle do caramujo. 5. Realizar campanhas educativas, através de palestras nas escolas, dos agentes comunitários de saúde, utilizando os meios de comunicação (rádio, jornal, televisão, carro de som), etc. 6. Relacionar e adquirir os materiais necessários (luvas descartáveis, sacos plásticos, tambores com tampas, EPI´s, transporte, alimentação, planilha etc) e preparar, previamente, o local de descarte. 8. Capacitar os Agentes Multiplicadores. 9. Avaliar, conjuntamente com os parceiros, o resultado da campanha, através do estudo e análise da planilha preenchida (sugestão de modelo em anexo). OBS.: Lembrar que as ações deverão ser repetidas, sempre que forem verificadas novas ocorrências do molusco.