2.1 Processo de trabalho dos agentes de combate às endemias
Todo processo de definição e instituição de medidas de saúde e segurança com foco na
atenção integral na saúde do trabalhador, bem como as correspondentes ações de vigilância
em saúde, se inicia com a análise do trabalho, dos trabalhadores e de seus componentes,
a fim de estabelecer as possíveis repercussões dessa atividade na saúde.
Dessa forma, é importante conhecer tanto as condições de trabalho, que envolvem
a) o ambiente físico – iluminação, ruído, poeira, substâncias químicas etc., b) o ambiente
biológico – bactérias, vírus, fungos etc., c) o posto de trabalho – espaços físicos, condições
das máquinas, equipamentos e ferramentas utilizadas etc., quanto a organização do
trabalho, que abrange, principalmente, a divisão das tarefas (o trabalho prescrito, ordenado
pelos organizadores) e a divisão dos trabalhadores (FERREIRA, 2015).
É a partir da compreensão do trabalho real (BRITO, 2008) – aquele que de fato é realizado
pelos trabalhadores a partir dos meios estes que possuem para executá-lo – que são implementadas as intervenções necessárias à garantia da saúde e segurança do trabalhador.
Assim sendo, o conhecimento sobre as atividades e como estas são desenvolvidas é
essencial para identificar os fatores e situações de risco aos quais os trabalhadores estão
expostos e adotar medidas para sua eliminação ou mitigação.
Situações de risco
identificadas no processo
de trabalho dos agentes
de combate às endemias
e doenças relacionadas
ao trabalho
eixo 2
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21
Tradicionalmente, são conhecidas várias
formas de controle vetorial que podem ser
utilizadas de forma isolada ou integrada.
Assim, têm-se os controles mecânico,
biológico, legal, químico e integrado, sendo
este último atualmente preconizado pelo
Ministério da Saúde. Transversais a quaisquer
formas de controle estão as ações educativas
junto à população, bem como as ações de
caráter intersetorial, com envolvimento das
áreas de saneamento e meio ambiente,
educação, ordenamento urbano, cidadania,
entre outras.
Para uma melhor compreensão do processo
de trabalho do ACE no controle do Aedes
aegypti, as atividades correspondentes serão
resumidas a seguir em dois grandes grupos:
visitas domiciliares e aplicação de adulticidas.
2.1.1 Visitas domiciliares
A visita domiciliar é uma das principais ações desenvolvidas pelos ACE. Tem um marcado
caráter educativo e pressupõe a participação da população na adoção de cuidados para
a eliminação dos criadouros, bem como para a identificação de casos suspeitos das
arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti, além do aconselhamento ao morador com
suspeita de doença para busca oportuna de atendimento junto à Rede de Atenção à Saúde.
A presença regular dos ACE nas residências em áreas prioritárias é uma importante medida
para a promoção de informações que possam favorecer a mudança de comportamento.
As visitas domiciliares são precedidas de ações de planejamento, preparação e organização
das atividades, e têm por base o território de atuação. Tais ações envolvem os diferentes
atores que atuam nos programas de controle, como os gestores da área de manejo vetorial,
os supervisores de campo e os ACE. Nessas ações, são estabelecidos os locais de atuação
de cada equipe, bem como o número de imóveis a serem inspecionados.
É importante considerar que o número de visitas domiciliares e as metas de rendimento
médio devem ser programados de acordo com a realidade do município, levando em conta
o tamanho dos imóveis, as condições climáticas, o absenteísmo, a carga horária diária, entre
outros. Esses parâmetros podem ser utilizados para a adoção de estratégias diferenciadas,
como o Levantamento Rápido de Índices (LIRAa), que permite ações direcionadas para
áreas com maior risco.
Para compreender melhor:
Tarefa: é aquilo que é
solicitado ao trabalhador
para ser executado.
Também chamado de
trabalho prescrito.
Atividade: compreende o
trabalho real, o que é de fato
realizado pelo trabalhador
a partir dos meios que este
possui para dar conta do
que lhe é pedido, ou seja,
para realizar uma tarefa.
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De forma geral, os materiais de trabalho utilizados
pelos ACE são armazenados nos locais onde os
integrantes das equipes se encontram antes de
iniciar as atividades diárias, a fim de se munir
dos equipamentos, registrar frequência e trocar
informações sobre situações encontradas no
território. Esses locais, denominados pontos
de apoio (PA), encontram-se dentro da área de
abrangência dos ACE e podem funcionar em diversos
estabelecimentos, como unidades de saúde, centros
comunitários, escolas, entre outros.
Os materiais incluem as bolsas para armazenar os
instrumentos de trabalho, como lápis, pranchetas, formulários, pesca-larvas e tubos para
depósito das formas imaturas do vetor, bem como inseticidas, equipamentos de proteção
individual (EPI) e outros, a depender da organização local e das atividades.
A partir dos PA, os ACE se dirigem à área de trabalho e iniciam o processo de vistoria aos
imóveis – domicílio e peridomicílio – para a identificação de potenciais criadouros do
mosquito transmissor da dengue e a adoção de medidas de controle, com a participação
dos moradores/proprietários. A visitação é também realizada em imóveis comerciais e
terrenos baldios.
Caso sejam identificados criadouros, os ACE orientam ao morador a realização do controle
mecânico ou procedem eles mesmos à remoção, destruição ou vedação, e em último caso,
ao tratamento químico ou biológico, com a utilização de larvicidas nos depósitos que não
são passíveis de eliminação mecânica ou cobertura. Durante as atividades de levantamento
de infestação, os ACE realizam a coleta de larvas para envio ao laboratório de entomologia.
Em alguns imóveis, são detectados pontos de difícil acesso, com grande potencial de
proliferação, como caixas d’água descobertas, calhas e lajes com problemas de limpeza e
escoamento, cisternas e outros locais de armazenamento de água. Para a inspeção desses
pontos, é necessário um esforço adicional, com utilização de escadas, cordas e outros
mecanismos. Essa atividade é classificada como trabalho em altura.
Considera-se trabalho em altura toda atividade executada acima de 2,00m (dois metros)
do nível inferior, em que haja risco de queda. Para inspecionar depósitos de difícil acesso
encontrados em locais abrangidos pela definição de trabalho em altura, é importante que
sejam estruturadas equipes especializadas, conforme a NR-35 (BRASIL, 2016).
Importante destacar que, normalmente, os ACE locomovem-se a pé ou de bicicleta e
percorrem extensas áreas, estando em grande parte do tempo expostos à radiação solar
e outras intempéries. Ao final do dia, os ACE retornam ao PA para devolver os materiais de
trabalho, os quais não devem ser levados às suas residências.
O número de visitas
domiciliares e as
metas de rendimento
médio devem ser
observados de acordo
com a realidade do
município.
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23
No decorrer da execução de seu trabalho de rotina, os ACE podem passar por supervisão
direta ou indireta, realizada pelos supervisores de campo, que acompanham a execução
das ações a fim de verificar a qualidade do trabalho e orientar medidas de melhoria
das atividades.
2.1.2 Aplicação de adulticidas
Consiste no uso de inseticidas para controle do mosquito adulto, seja em situações de
rotina, como nos pontos estratégicos (aplicação residual), ou em situações específicas,
como nos bloqueios de transmissão ou de casos (aplicação espacial).
Para a realização dessa atividade, além do planejamento, outras tarefas merecem destaque: preparação da calda, transporte e armazenagem dos inseticidas, manutenção dos
equipamentos, lavagem dos equipamentos e veículos, tríplice lavagem das embalagens
e lavagem dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Algumas destas serão
descritas separadamente.
Para inspecionar depósitos de difícil acesso
encontrados em locais abrangidos pela
definição de trabalho em altura, é importante
que sejam estruturadas equipes especializadas
e observadas as disposições legais da NR-35
(BRASIL, 2016), que estabelece os requisitos
mínimos e as medidas de proteção para o
trabalho em altura, envolvendo o respectivo
planejamento, organização e execução,
de forma a garantir a segurança e a saúde
dos trabalhadores envolvidos direta ou
indiretamente com essa atividade.
A equipe especializada deverá passar por
avaliação médica que a habilite trabalhar
em altura, além de contar com treinamento
e equipamentos de segurança para executar
esse tipo de tarefa.
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A aplicação de inseticidas para tratamento espacial (gotículas micropulverizadas dos
inseticidas em determinado espaço e ambiente) pode ser realizada por meio de máquinas
de Ultra Baixo Volume acopladas ao veículo (UBV pesada) ou equipamentos costais
motorizados (UBV costal).
Essa metodologia de controle consiste em colocar um pequeno volume de inseticida em um
grande volume de massa de ar, com a finalidade de eliminar os mosquitos que entrem em
contato com essas gotículas.
A utilização dessa metodologia envolve o uso de equipamentos motorizados, o que determina
cuidados especiais no manuseio dos inseticidas e solventes, além da operação, regulagem
e manutenção dos próprios equipamentos.
No caso dos equipamentos portáteis, em geral são formadas duplas de trabalho, permitindo
que os operadores apliquem o produto por cerca de 20 minutos cada, revezando-se em
seguida. Enquanto um operador trabalha nebulizando, o outro atua no serviço de aviso
à população sobre os cuidados a serem observados nos quintais e no intradomicílio, nas
situações em que essa ação é permitida.
Alguns imóveis que recebem a visita do ACE são diferenciados dos demais e chamados de
pontos estratégicos (PE), por apresentarem grande concentração de depósitos preferenciais
para a oviposição do Aedes aegypti, como borracharias, depósitos de sucata e materiais
de construção, garagens de transportadoras, cemitérios, entre outros. Esses imóveis,
normalmente, recebem inspeção em menor intervalo de tempo e com mais frequência.
Nos PE, utiliza-se o tratamento químico para as formas imaturas (larvas) e o residual (adulto),
o qual necessita preparação da calda, sendo a aplicação realizada por meio de equipamento
manual ou costal.
a. Preparação da calda
A atividade de preparação da calda é realizada de maneira rotineira e consiste em proceder
à diluição do inseticida na sua apresentação comercial (concentração inicial) nos solventes
indicados, normalmente em água ou em solventes oleosos como óleos vegetais ou óleo
diesel nas formulações aquosas, conforme as normas estabelecidas pelos programas,
obtendo-se a concentração final desejada.
A diluição é feita para reduzir a concentração inicial e garantir que, durante a aplicação do
produto, se consiga trabalhar com as doses de ingrediente ativo preconizadas nos diversos
programas, seja em alvos planos como paredes (como as aplicações residuais) ou em
determinada massa de ar, no caso das aplicações espaciais (nebulização a UBV).
Tal atividade, em geral, é realizada nos depósitos/armazéns de inseticidas, alguns denominados de Centrais de UBV.
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B. Lavagem e manutenção de veículos e equipamentos
Consiste na limpeza dos veículos e equipamentos para descontaminação, sendo normalmente realizada pela própria equipe de bloqueio. Em geral, os veículos devem ser lavados
após cada operação diária e lubrificados seguindo calendário específico.
Orientações e outras atividades mais detalhadas realizadas pelos agentes de combate às
endemias encontram-se descritas nos manuais e diretrizes preconizadas pela CoordenaçãoGeral de Vigilância das Arboviroses – CGARB/DEIDT/SVS/MS.
2.2 Fatores de risco nas atividades desenvolvidas pelos agentes
de combate às endemias
Guida et al. (2012) apontaram uma série de situações que podem levar à ocorrência ou
à complicação de doenças e agravos nos ACE, tais como: infraestrutura precária de trabalho;
recursos e espaços físicos inadequados; armazenamento incorreto dos materiais usados
no controle vetorial; ausência de local de trabalho fixo, uma vez que a maior parte das
atividades se desenvolve na rua, expondo os trabalhadores à intempéries e violência urbana;
baixo reconhecimento profissional, tanto institucional quanto por parte da população;
pressão para o cumprimento de metas, ocasionando baixa autoestima e desmotivação;
falta de informações sobre os produtos utilizados, o que pode gerar danos à saúde por
desconhecimento dos riscos.
Dessa forma, os agentes de combate às endemias estão historicamente expostos aos mais
variados riscos à sua saúde, que vão desde a permanência em áreas endêmicas do vetor
até o manuseio de substâncias tóxicas usadas na tentativa de erradicação e controle dos
mosquitos (TORRES, 2009). Dentre esses riscos, destacam-se os químicos, ergonômicos
e de organização do trabalho, sociais, físicos, biológicos, mecânicos e de acidentes, muitas
vezes concorrentes e simultâneos, podendo causar doenças e agravos a esses trabalhadores
(MATOS, 2017), conforme descrito a seguir.
2.2.1 Risco químico
Historicamente utilizados pelos serviços de saúde pública para o controle de endemias,
os inseticidas representam um dos fatores de risco mais importantes para a saúde
dos trabalhadores e para o meio ambiente. Os compostos, substâncias ou produtos dos
inseticidas podem ser absorvidos por via respiratória, dérmica ou oral (BAHIA, 2012).
Dentre os pesticidas preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS, on-line), os
inseticidas se constituem no maior grupo utilizado pelos programas de controle de doenças
transmitidas por vetores, embora haja uma tendência mundial de substituição dos produtos
químicos por outras formas de controle. O processo de indicação se baseia em buscar,
dentre aqueles produtos utilizados na agricultura, os que sejam seguros e efetivos para
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uso em saúde pública. O mesmo princípio ativo, dependendo da sua utilização, pode ser
registrado em diferentes categorias, na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
ou no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), adotando-se o termo
“agrotóxico” na agricultura (Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989 – “Lei dos agrotóxicos”)
e “desinfestante” na vigilância sanitária (Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, em que
se enquadram os saneantes domissanitários).
Independentemente do termo empregado, trata-se de substâncias químicas com diversos
graus de toxicidade que, embora sejam empregadas para o controle de vetores de doenças,
devem ser utilizadas observando-se as medidas de precaução estabelecidas.
Dentre os trabalhadores da saúde, os ACE representam a categoria mais exposta aos efeitos
dos inseticidas nas campanhas de controle vetorial (LIMA et al., 2009). Conforme descrito
nas atividades, os ACE podem estar expostos a inseticidas desde o fracionamento e preparo
da calda até a sua aplicação, participando também de atividades inerentes aos processos de
armazenagem, transporte, uso e descarte, além da limpeza e manutenção dos equipamentos
de borrifação e veículos.
Atualmente, nos programas de controle vetorial, são empregados o inseticida Malathion
Emulsão Aquosa (EA 44%), o larvicida Pyriproxyfen (0,5 G) e o inseticida Bendiocarb PM
80 (Carbamato). Entretanto, esses produtos sofrem constante avaliação para verificação de
resistência e podem ser substituídos sempre que indicado. Dessa forma, além dos atualmente
utilizados, os seguintes produtos também são passíveis de uso pelo Brasil, em substituição
àqueles em uso: Spnosad, Fludora® Fusion, Cielo e SumiShield. O Anexo A deste Manual
apresenta os produtos com suas informações técnicas e possíveis efeitos sobre a saúde.
2.2.2 Riscos físicos
Os ACE, durante a execução de suas atividades, podem estar expostos principalmente a
raios solares (radiações não ionizantes), calor, frio e umidade (BAHIA, 2012). Além disso,
podem também estar expostos a ruídos, devido às emissões sonoras (TEIXEIRA et al., 2003)
dos equipamentos costais motorizados, dos nebulizadores portáteis e dos nebulizadores
pesados utilizados no controle vetorial (BRASIL, 2009a).
2.2.3 Riscos biológicos
Assim como outros profissionais da área da saúde, os ACE podem estar expostos a agentes
biológicos (fungos, vírus, bactérias, parasitas, bacilos e protozoários) e adquirir doenças
e agravos transmitidos por tais patógenos. O contato diário com a população, com os vetores
e com os reservatórios de doenças pode aumentar o risco do desenvolvimento desses
agravos nesse grupo de trabalhadores. Além disso, durante as visitas domiciliares, os ACE
podem estar expostos a águas contaminadas, resíduos sólidos e esgotos, em função das
condições precárias de saneamento ambiental em algumas localidades, potencializando
o risco de adoecimento.
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2.2.4 Riscos mecânicos e de acidente de trabalho
Os acidentes de trabalho são fenômenos determinados por uma série de fatores presentes
nos ambientes laborais, nos quais estão implicados, além das características próprias
dos processos produtivos, as formas de organização e de gestão do trabalho, os critérios
de seleção de tecnologias, os julgamentos quanto à relação custo-benefício e as opções
tomadas quanto à proteção da saúde dos trabalhadores. Esses acidentes podem ser
considerados previsíveis e, portanto, passíveis de serem prevenidos, dado que os fatores
causais estão sempre presentes bem antes do desencadeamento da sua ocorrência
(BAHIA, 2012).
Os ACE estão sujeitos à ocorrência de acidentes de trabalho durante o exercício da
atividade laboral, tais como queda de diferentes alturas, choque contra obstáculos, projeção
de partículas ou objetos, perfurações, cortes, contusões, ferimentos, ataques de cães,
picadas ou contato com insetos e animais peçonhentos, agressões interpessoais, assaltos,
atropelamento e acidentes de trânsito durante o exercício de suas atividades em via pública,
além de acidentes de trajeto.
2.2.5 Riscos ergonômicos e de organização do trabalho
e riscos sociais
Esses riscos decorrem de deficiências na concepção, organização e gestão laboral, bem
como de um contexto social de trabalho, podendo ter efeitos negativos nos níveis psicológico,
físico e social, tais como o estresse relacionado ao trabalho, esgotamento ou depressão.
Os ACE estão expostos aos fatores de risco ergonômico durante o manuseio de equipamentos, aplicação de agrotóxicos, elevação e transporte manual de peso, trabalho em pé
com deslocamento intenso, esforço físico, agachamentos, flexão e extensão de membros
superiores e de tronco, que podem ocasionar o surgimento ou complicação de doenças e
agravos. Em relação ao peso dos equipamentos, os ACE podem desenvolver desgaste nas
estruturas osteoarticulares e músculo-tendinosas, levando a agravos como hérnia de disco,
lombalgias e tendinites (BAHIA, 2012).
A depender da atividade desenvolvida, o ACE transporta uma série de materiais em uma
bolsa, em geral de uso lateral, tais como: pasta com documentos (fichas diárias, fichas de
visita domiciliar), prancheta, lanterna, pesca-larva, recipientes contendo larvicidas, trena,
tubos de coleta de amostras, álcool, lápis e caneta). Nos locais em que é realizado o controle
biológico com peixes, o agente também transporta uma garrafa PET (polietileno tereftalato)
(CÂNDIDO; FERREIRA, 2017).
Os ACE podem ainda estar submetidos a sobrecarga de trabalho, exigências para
cumprimento das tarefas, problemas relacionados à jornada e ritmo de trabalho, problemas
de relações interpessoais e pressão psicológica, por serem supervisionados constantemente
(BAHIA, 2012).
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Com relação aos riscos sociais, têm-se a precariedade dos vínculos empregatícios, situações
de ameaças ou de agressão, possíveis assédios e a exposição a situações de violência
urbana e rural durante as atividades laborais (BAHIA, 2012).
Os fatores de risco discutidos encontram-se resumidos no Quadro 1.
Quadro 1 Fatores de risco, condições de trabalho e possíveis agravos e doenças relacionadas
ao trabalho do agente de combate às endemias
Fatores de risco Situações de exposição
Exemplos de possíveis agravos e doenças
relacionadas ao trabalho que podem
decorrer das atividades desenvolvidas
pelo agente de combate às endemias
Riscos químicos
Manipulação de inseticidas
e equipamentos necessários
à sua aplicação.
Intoxicação exógena
Doenças respiratórias agudas e crônicas
Doenças do sistema nervoso e
neuropsiquiátricas
Doenças hepáticas e renais
Alguns tipos de câncer relacionados
ao trabalho
Riscos físicos
Trabalho desenvolvido em ambientes
abertos, com exposição a radiações,
variação de temperaturas (elevadas
ou baixas) e umidade, uso de
maquinário que emite ruídos e
vibrações.
Perda Auditiva Induzida por Ruídos
(Pair) e efeitos extra auditivos da
exposição a ruídos
Câncer de pele
Dermatoses
Doenças do sistema nervoso
Riscos biológicos
Exposição ocupacional a agentes
biológicos (como bactérias, toxinas,
vírus, protozoários) disseminados
no ambiente, que podem ser
transmitidos por vetores ou por
lesões provocadas por objetos
perfurocortantes potencialmente
contaminados e, ainda, pelo ar ou
outra forma.
Acidente de trabalho com exposição
a material biológico
Arboviroses (dengue, chikungunya,
Zika e febre amarela)
Tuberculose
Malária
Leptospirose
Tétano
Leishmaniose
Riscos mecânicos
e de acidente de
trabalho
Uso de maquinários e equipamentos,
queda de diferentes alturas, colisões,
atropelamentos, picadas e contato
com insetos e animais peçonhentos,
armazenamento inadequado de
materiais, projeção de partículas ou
objetos, perfurações, lesões, cortes,
ferimentos, mordedura de animais,
deslocamentos em áreas com sinalização precária, uso de motocicletas
em algumas atividades.
Acidente de trabalho
Acidente com exposição a material
biológico
Acidentes com animais peçonhentos
continua
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Fatores de risco Situações de exposição
Exemplos de possíveis agravos e doenças
relacionadas ao trabalho que podem
decorrer das atividades desenvolvidas
pelo agente de combate às endemias
Riscos
ergonômicos
e de organização
do trabalho e
riscos sociais
Realização de trabalho em pé
com deslocamento intenso
e esforço físico, elevação e
transporte de peso, flexão e
extensão de membros superiores
e de tronco, agachamentos,
postura inadequada, monotonia
e repetitividade de atividades,
imposição de rotina intensa.
Jornadas de trabalho extensas,
pressão para cumprimento de
metas, estresse ocupacional
relacionado à organização do
trabalho (condições insalubres de
trabalho, falta de treinamento e
orientação, relações interpessoais
abusivas, dentre outras), tensão,
ansiedade, frustração e depressão
desencadeadas por agentes estressores existentes no ambiente laboral.
Violência verbal e física, exposição
à violência urbana, precariedade
dos vínculos.
O direito à saúde, elevado à categoria dos direitos fundamentais, por estar interligado ao direito à vida e à existência digna, representa um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, sendo considerado pela doutrina e legislação uma obrigação do Estado e Município uma garantia de todo. O nosso legado promover a saúde e o bem estar de todos os cidadães.( EMAIL: dcejipa@gmail.com)
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