João Rosan |
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Monti: “É possível que o Aedes aegypti seja capaz de transmitir outros agentes infecciosos que a gente ainda não conhece” |
Um mesmo mosquito, extremamente bem adaptado ao ambiente urbano, é capaz de transmitir sete variantes de vírus, de quatro doenças diferentes - algumas delas com potencial para desenvolver complicações graves e até a morte de seres humanos. Não se trata de uma nova descoberta ou mesmo de um inseto exótico com nome estranho.
A espécie, pelo contrário, é conhecida de longa data: o Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre amarela, e das recém-chegadas no País febre chikungunya e zika vírus. A última, aliás, vem sendo relacionada a um surto sem precedentes de microcefalia em bebês, que sofrem má-formação cerebral quando a mãe contrai o zika ainda durante a gravidez.
Embora a maioria dos registros com esta correlação esteja concentrada no Nordeste, nesta semana os dois primeiros casos suspeitos em São Paulo começaram a ser investigados. Há indícios, ainda, de que o zika possa provocar uma reação conhecida como Síndrome de Guillain-Barré, que pode levar a pessoa infectada à paralisia.
Na manhã dessa sexta-feira (27), o Instituto Evandro Chagas confirmou a primeira morte por zika no Brasil, cuja vítima é um morador do Maranhão, que já tinha lúpus, doença que afeta o sistema imunológico.
Embora ainda não haja informações sobre a presença deste vírus em Bauru, as notícias recentes preocupam, já que a cidade carrega um índice crítico de infestação de Aedes aegypti. Segundo dados obtidos com exclusividade pelo JC de um levantamento realizado pelo município no mês passado, larvas do mosquito estão presentes em 3,3% das casas, nível considerado de alerta e próximo do dobro do registrado em 2014.
“Da mesma forma, não detectamos casos de febre chikungunya na cidade. Mas a doença já chegou ao Estado de São Paulo. Assim como dengue, a tendência é que estas ocorrências localizadas se disseminem, o que pode ser um problema para a cidade, no futuro”, alerta o secretário municipal de Saúde Fernando Monti. Embora menos letal do que a dengue, a chikungunya pode provocar dores intensas nas articulações, que podem perdurar por meses e, às vezes, anos.
Quatro vezes
Já a dengue matou, somente em 2015, seis pessoas em Bauru. Por contar com quatro sorotipos diferentes, o vírus que pode deixar uma mesma pessoa doente por quatro vezes, com probabilidade maior de o quadro evoluir para a forma hemorrágica a partir da segunda contaminação. Segundo Fernando Monti, contudo, o tipo viral quatro ainda não foi registrado na cidade. “E é possível que o Aedes aegypti seja capaz de transmitir outros agentes infecciosos que a gente ainda não conhece. Da mesma maneira que, recentemente, foram descobertas a transmissão da chikungunya e do zika, novos vírus poderão ser detectados”, pontua.
O mais letal que se tem conhecimento até hoje é o que transmite a febre amarela. Por sorte, Bauru não possui registros da doença em sua história recente. Devido à existência de vacina, a ocorrência da enfermidade está atualmente concentrada em sua forma silvestre, com transmissão entre primatas. Seres humanos que viajam para regiões de mata sem a devida imunização, no entanto, ficam sujeitos a contrair o vírus, que pode levar à morte.
Mudança de protocolo
Diante da preocupação com a descoberta do zika vírus e das complicações decorrentes da doença, a Secretaria Municipal da Saúde adianta que irá alterar o protocolo para a realização de exames de identificação viral em pacientes com sintomas da dengue, que são bastante semelhantes aos do zika vírus. “Quando o exame der negativo para o vírus da dengue, automaticamente o laboratório fará o teste para o zika vírus. Mas, por se tratar de um exame complexo, iremos fazê-lo por amostragem, para detectarmos se há circulação do vírus na cidade”, pontua o titular da pasta, Fernando Monti.
Segundo o secretário, até o momento não há recomendação do Ministério da Saúde para que casos de microcefalia e de Síndrome de Guillain-Barré tenham notificação obrigatória, já que ambas as doenças podem se desenvolver a partir de outras causas que não o zika vírus.
Risco para grávidas?
Segundo Fernando Monti, os profissionais da Secretaria Municipal de Saúde estão alertas para o diagnóstico das novas doenças registradas no País e, até o momento, não há motivo para que gestantes entrem em pânico. As que apresentarem febre, contudo, devem procurar seu médico de confiança ou a unidade de saúde mais próxima para descartar a possibilidade de infecção pelo zika vírus.
“Vamos fazer um sistema de vigilância bastante acentuado. Toda grávida com quadro febril que não seja explicado por outras intercorrências será investigada. Mas elas não precisam ficar assustadas, porque quadros febris são comuns durante a gestação”, pontua, salientando que mulheres que desejam engravidar não precisam suspender seus planos. “Uma orientação como esta seria mais uma resposta ao medo do que à realidade”, completa.
18,5 toneladas
Desde o começo as atividades da Semana de Mobilização contra a Dengue 2015, foram coletadas 18,5 toneladas de materiais inservíveis. A ação é desenvolvida pela parceria firmada entre a Secretaria Municipal de Saúde e Unimed. Na segunda, as visitas acontecerão nas regiões dos bairros Vila Nipônica e Vila Ipiranga, quando a campanha deve ser encerrada.
Quioshi Goto |
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Maryellen Oliveira de Pinho espera o primeiro filho e teve dengue durante a gestação: “Ninguém tinha me falado que o mesmo mosquito poderia transmitir outra coisa” |
‘Faltam informações’, critica gestante
A operadora de telemarketing Maryellen Oliveira de Pinho, 24 anos, espera o primeiro filho e, na tarde dessa sexta-feira (27), já estava em trabalho de parto na Maternidade Santa Isabel, em Bauru. Moradora de Piratininga, a gestante afirma não conhecer a relação entre a microcefalia, que vem sendo associada ao zika vírus, e o mosquito Aedes aegypti. Para ela, somente a dengue era transmitida pelo inseto.
O conhecimento é de causa, já que a futura mãe foi diagnosticada com dengue durante a gravidez. “Em nenhum momento, meu ginecologista me alertou sobre os perigos do Aedes”, conta. Para ela, o alerta durante as consultas é importante para fazer as gestantes compreenderem a gravidade do problema. “Se nem sobre a dengue os médicos falam, muito menos sobre as outras doenças. Ninguém tinha me falado que o mesmo mosquito poderia transmitir outra coisa. Se a orientação fosse clara, poderíamos nos proteger de forma mais eficaz”, complementa a operadora de telemarketing.
Quando questionada sobre os cuidados tomados durante os nove meses de gestação, Maryellen destaca a preocupação com o acúmulo de água. “Para me cuidar, evito deixar qualquer água acumulada em vasos no quintal. Gosto muito de plantas, por isso sempre coloco terra ao redor delas”, finaliza a gestante.
Bauru: nível de infestação quase dobra
Liraa realizado em outubro constatou que 3,3 em cada 100 casas apresentavam focos de reprodução do mosquito; no ano passado, índice era de 1,9
Bauru registrou, em 2015, sua maior epidemia de dengue. E, para 2016, o cenário não é otimista. Em entrevista concedida nessa sexta-feira (27) ao Jornal da Cidade, o secretário municipal da Saúde, Fernando Monti, fez uma revelação mais do que preocupante: a presença de larvas do Aedes aegypti nas residências de Bauru quase dobrou em um ano.
O Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Liraa) realizado na primeira quinzena de outubro em 6.159 imóveis da cidade demonstrou que 3,3 em cada 100 casas visitadas apresentavam focos de reprodução do mosquito. O nível é considerado de alerta e três vezes maior que o limite máximo preconizado pelo Ministério da Saúde, de 1%.
No ano passado, o resultado do Liraa, que é realizado em âmbito nacional, foi de 1,9% em Bauru, também classificado como índice de alerta. A partir de 4%, o nível é de risco. “É importante destacar que, por mais um ano, continuamos com a constatação de que cerca de 80% dos focos estão dentro dos domicílios, o que reforça a necessidade de todas as pessoas se mobilizarem individualmente para eliminar potenciais criadouros de suas casas”, salienta Monti.
Embora Bauru ainda não tenha registro de casos de zika vírus e febre chikungunya, o ano de 2015 foi responsável pelo recorde histórico de casos de dengue na cidade. Ao todo, foram seis mortes e 8.711 pessoas infectadas – média de uma notificação para cada 42 habitantes.
Habitualmente, após epidemias como esta, por motivos ainda não totalmente esclarecidos, o número de casos tendia a cair no ano seguinte. O secretário, contudo, faz um alerta, destacando que, em cidades como Campinas e Ribeirão Preto, picos em anos sequentes já vem sendo registrados.
“Não tem como o poder público tomar conta de todos os imóveis. Cada um precisa adotar todas as ações possíveis para controlar o mosquito. A única solução é limpeza”, completa.
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